
Imagine-se confrontado com a escolha de um líder para a sua nação, alguém cujo poder e influência irão moldar o destino de milhões. Duas opções surgem: a primeira, um indivíduo que genuinamente acredita que o planeta terra tem uns meros 6.000 anos de existência, e que o cosmos é comandado por uma entidade divina invisível; a segunda, um estrategista político que simula essa mesma crença para ganhar votos e simpatia.
Ambos representam, em graus variados, um compromisso com um sistema de crenças arcaico, seja por convicção verdadeira ou por cálculo político. O primeiro guiará a política e a governação com base nessa cosmovisão antiga e poética, ainda que profundamente incompatível com a razão científica. O segundo, por seu lado, é um camaleão na selva política, consciente do poder do imaginário religioso, mas destituído de uma integridade moral real.
Assim, somos forçados a ponderar uma questão desconfortável: qual é preferível? O líder que autenticamente se compromete com o irracional, ou aquele que finge aderir ao ilógico como um meio de ascensão ao poder? Ambos apresentam riscos: o primeiro poderia tomar decisões políticas influenciadas por dogmas religiosos, enquanto o segundo, mesmo que não acredite nos dogmas, estaria disposto a perpetuá-los por mero oportunismo, carecendo de um núcleo de integridade.
Em ambos os casos, a racionalidade e o pensamento crítico ficam reféns de uma agenda baseada em crenças que não resistem ao escrutínio da lógica, ou da evidência empírica.
Neste contexto, não será mais razoável escolher um líder desprovido de compromissos com o sobrenatural? Um líder cujas decisões assentem nos pilares sólidos da ciência e da razão, e não nos dogmas religiosos que, como se viu, podem impedir progressos médicos cruciais, como a investigação com células estaminais embrionárias?
A fé, muitas vezes descrita como um domínio isolado da razão, implica uma geopolítica do absurdo.
Recorde-se a expectativa apocalíptica que prevalece em certas culturas, onde uma significativa parcela da sociedade anseia pelo fim dos dias. Tal perspectiva não apenas contraria os princípios da sustentabilidade civilizacional, mas também infunde um profundo nihilismo baseado na fé, que torna a resolução dos dilemas globais quase inatingível.
Assustadoramente, estas perspectivas não são relegadas às margens da discussão pública; tornaram-se, na verdade, elementos centrais e protegidos no debate político e social. Se acreditamos que somos instrumentos da vontade divina, que espaço resta para perguntas morais genuínas, ou para a revisão de decisões? O líder ideal será aquele movido por uma compaixão esclarecida, uma empatia lastreada em factos, e humildade perante a intricada rede de complexidades que o mundo real nos apresenta.
Queremos realmente colocar o destino da nossa civilização nas mãos de quem prefere a orientação de entidades invisíveis à evidência empírica?
A nossa época, marcada por uma fascinação perigosa com mitos religiosos, não é uma fase inofensiva da história humana. Vivemos numa era de avanços tecnológicos que nos dotam de um poder destructivo sem precedentes, e ainda assim hesitamos em abandonar as fábulas que moldaram as gerações passadas.
A solução, se existe, passa por uma educação que privilegie a razão, o pensamento crítico e uma compreensão rigorosa da complexidade humana e do universo — um universo que, lembremo-nos, é infinitamente mais antigo e vasto do que qualquer escritura antiga poderia conceber.